Psicoterapia: Uma ponte para a transformação

Pretendo destacar aqui a psicoterapia como poderosa ferramenta autoconhecimento e transformação, isso porque quando se procura uma terapia, a energia psíquica já se mobiliza para a cura.

A psicoterapia pode se tornar um caminho muito eficaz e rico no processo de cura, embora não seja seu principal objetivo, segundo Jung, em primeiro lugar está um reajuste da atitude psicológica adquirida com a ajuda do terapeuta.

Para ele a psicoterapia tem quatro etapas: a confissão, o esclarecimento, a educação e a transformação.

No primeiro passo: a confissão, o indivíduo pode finalmente revelar seu segredo, consegue contar aquilo que até então permanecia oculto, começa a falar de sua condição e de seu sofrimento.

Um dos benefícios do processo terapêutico é poder compartilhar com alguém um segredo, que até então era completamente pessoal. Ter um segredo produz isolamento,  o que traz um sentimento de solidão, pois quando a pessoa é portadora de um segredo, em geral faz o máximo para mantê-lo, despendendo grande energia psíquica para isso, causando um desequilíbrio energético e conseqüentemente o sofrimento.

A consciência de um problema é sem dúvida nenhuma muito melhor do que a repressão, pois quando se tem consciência, é possível ter mais controle e condições de lidar, pois é mais fácil trabalhar na luz do que na ausência dela. A repressão, embora seja um mecanismo de defesa necessário em certas condições, diminui o campo consciente, que deixa de abarcar partes dos fenômenos.

O segundo passo é o esclarecimento:  no processo de confissão o paciente já pôde falar de seu sofrimento, compartilhar o que se passa e até mesmo vivenciar e expressar sentimentos que até então não podiam ser vivenciados conscientemente, a próxima etapa é onde efetivamente se entra em contato com conteúdos inconscientes que levam ao sofrimento, não só revelar o oculto, sentir o oculto, mas entender como as coisas de processam.

No esclarecimento o indivíduo traz para si conteúdos projetados em outras pessoas, tornando possível apoderar-se das coisas. Nesse processo adquire clareza de suas fraquezas, do lado sombrio do qual não se gosta e não se quer entrar em contato.

È nesse momento que se fala em insight, onde o indivíduo começa a entender os motivos que o levaram ao sofrimento, os processos internos atuantes podem identificar e reconhecer um complexo atuante em sua vida. Pode perceber sua fraqueza diante dele.

A terceira etapa: a educação.
No processo de educação o indivíduo começa a agir, agora que já confessou seu segredo, já compartilhou o que era até então oculta, já entrou em contato com os fatores que desencadearam seu sofrimento, tem o esclarecimento e a elucidação da origem de seu complexo. Neste momento, pode começar a preparar-se conscientemente para assumir uma nova atitude diante da vida, assumindo novos riscos.

Educar-se é não se contentar com a confissão e o esclarecimento do que se passa consigo, mas efetivamente esforçar-se para corrigir o que deve ser corrigido. A fase da educação exige do paciente um esforço moral.

Como já disse anteriormente, em um processo de psicoterapêutico a energia psíquica se torna disponível para o ego e o inconsciente, levado em conta, assume um aspecto de cooperação em relação à nossa consciência.  Por isso, mesmo que nosso esforço não resulte no que se espera, não atenda nossas expectativas, já poderá nos proporcionar crescimento e nos levará pelo caminho da individuação.

Para que um complexo possa perder sua força destruidora e deixas de agir da maneira autônoma, só a confissão e o esclarecimento não são suficientes, embora sejam passos importantes, sem os quais não seriam possíveis os passos seguintes.  Mas sozinhos não resolvem o problema, e a educação é um passo efetivo para que se estabeleça o equilíbrio psíquico, para que as mudanças no dia-a-dia sejam notadas, é através do esforço que se assume uma nova postura diante da vida, é através dela que passamos para o quarto estágio: a transformação.

Destaco aqui  a função positiva de uma crise, a função positiva de um complexo, desta forma, o processo de transformação também se dá em decorrência do confronto com nossos complexos, quando nossa energia psíquica está disponível para a busca de soluções criativas, para o autoconhecimento e principalmente para facilitar o diálogo entre consciente e inconsciente.

Segundo Jung (1998) nossa psique tem um grande potencial de auto-cura e que nosso inconsciente não tem só elementos perturbadores, a meta principal da análise do inconsciente é a transformação.

Se não houver transformação quer dizer que a influência do inconsciente permaneceu inalterada e isso ainda pode causar sintomas neuróticos, mesmo que o indivíduo tenha compreensão de seu problema.

O processo de transformação, que envolvem uma mudança de atitude do ego em relação ao inconsciente, buscando sempre a complementação que esta propõe, é a conseqüência das etapas vistas anteriormente: sem a confissão, não se tem esclarecimento, sem o esclarecimento não há educação, e sem a educação não há mudança efetiva e quando se assume uma postura diferente em relação a vida, somos expectadores de uma transformação.

A análise junguiana proporciona um alargamento da consciência e através dessa expansão o inconsciente começa a colaborar com o ego, pois sente que este está receptivo. A facilitação do diálogo consciente e inconsciente é de suma importância para o processo de transformação, uma vez que em nosso inconsciente reside todo o potencial humano, principalmente os potenciais criativos.

Não resta dúvida que o confronto com nossos complexos, a consciência de que somos influenciados por eles e o esforço para vencer sua autonomia, através de uma mudança de postura e atitudes, nos levará consequentente a uma transformação.